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A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

Caminho de Santiago da Costa - 2ª etapa

03.07.13, daraopedal

No dia seguinte, apesar de termos acordado cedo, acabámos por perder algum tempo com o pequeno almoço demorado, que acabaria por fazer falta para o resto da etapa. Partimos com o olhar posto no santuário de Santa Luzia. Depois de atravessarmos as confusas ruas da cidade cheias do reboliço da manhã, iniciámos a passagem por uma das zonas mais bonitas do percurso. Acabámos por seguir na vertente oeste da serra do alto de Santa Luzia, sempre com o mar à nossa esquerda. Esta zona carateriza-se por trilhos em calçada e passagem por propriedades antigas com muitos encantos.

Aspeto do trilho

Um curioso monumento e uma curiosa rotunda.

Muitos caminhos tinham este encanto.

Passando debaixo da ponte.

Passagem de um pequeno ribeiro que nasce no monte de Stª Luzia e corre em direção ao mar, por uma ponte do género de Poldras.

Um local encantador.

Passagem junto a este imponente portão de uma propriedade da zona.

O mar e o verde sempre presentes.

O percurso acaba por seguir o trajeto do comboio e por diversas vezes acabámos por cruzar a linha do alto Minho.

Igreja do Carreço. O caminho passa mesmo pelo seu adro.

Pouco depois regressámos aos trilhos florestais, saudados por esta alegre mensagem.

Vida de peregrino nem sempre é fácil. Nada de tentar a travessia em cima da bicicleta. Era água até meio da perna.

Chegamos a outro local do caminho espetacular: o convento de são João de Cabanas. Na descida até ao rio Afife e rodeados por muros, encontra-se uma imponente igreja em vias de ruína, com um imponente edifício rosa. Nas suas paredes, vários azulejos com poema de Pedro Homem de Mello

Vista sobre o conjunto dos edifícios e da ponte.

Um pouco a montante, existe uma carreira de moinhos, alguns reconvertidos em pequenas habitações.

Depois da descida, a subida, claro... Mas até nem custou muito porque o local é espetacular.

Depois de alcançarmos o topo do monte, iniciámos a descida para Vila Praia de Âncora, primeiro pelo meio da floresta, depois por entre caminhos e ruelas.

Passagem do rio âncora, numa ponte feita com pedras / poldras.

O caminho é mesmo pelo meio dos campos. As setas não enganam!

As ruas da vila encontravam-se enfeitadas com flores de papel, o que veio trazer um belo colorido à nossa passagem.

Depois de atravessarmos mais uma vez a linha de comboio (que atravessa a cidade mesmo pelo meio), apanhámos a ciclovia do Atlântico existente junto ao mar, que nos levou em segurança em direção ao monte de Stª Tecla que se vê no horizonte.

Abandonando a ciclovia, passamos pela capela de Stº Isidoro, mesmo junto ao mar.

O trilho continua para norte, seguindo a linha de comboio.

Chegada à foz do rio Minho, com destaque para o Monte de Stª Tecla (do lado espanhol) e o forte da Ínsua, na pequena ilha existente no meio da foz do rio.

Passagem por um túnel debaixo da linha de comboio.

Seguimos pela estrada, junto ao passeio que estava em obras para se tornar uma ciclovia partilhada.

De novo a atravessar a linha.

Até que chegámos ao centro de Caminha, uma localidade que ainda não conhecia e da qual gostei. A praça central está muito arranjada e o percurso passa pela torre medieval, seguindo por uma ruela muito típica até chegar à zona do rio Minho.

Alcançámos então o desejado ferry. Tinha consultado os horários e sabíamos que partiria às 12h. Chegámos em cima da hora e para tal foi preciso pedalar. Mas a desilusão estava para chegar: devido ao assoreamento do rio, só se consegue navegar na preia-mar, quando o nível da água está mais alto. Ora, quando chegámos o rio estava com a maré demasiado baixa para permitir a travessia. Que desilusão! O próximo barco seria às 14h. Teríamos de esperar duas horas.

Optámos por continuar a viagem até Vila Nova de Cerveira e aí atravessar na ponte internacional até Espanha, para finalmente regressar a La Guardia, do outro lado do Minho. Seguimos pela nacional 13, atravessando o rio Coura.

Aqui já não se "Caminha", pedala-se!

De Caminha a Vila Nova de Cerveira foram cerca de 12 km a mais para cada lado. Não custou muito, mas foram mais quilómetros acumulados que atrasaram o plano delineado.

À entrada de V.N. de Cerveira, junto à Pousada da Juventude, um painel assinalava o caminho de Santiago. A verdade é que até havia setas amarelas a guiar-nos, mas eram as de outra variante do caminho, que levavam até Valença do Minho, para seguir o caminho central.

Chegada ao centro histórico de V. N. de Cerveira, onde almoçámos. Até almocei demais! Comi tanto, que até tive problemas depois ao pedalar. Quem me manda ser guloso!

Logo à saída de Cerveira, passamos a Ponte da Amizade até ao território espanhol. Por fim, estávamos em Espanha!

Se costumam dizer que de Espanha, nem bons ventos, nem bons casamentos, a verdade é que os problemas surgiram aí. Na chegada a La Guardia, o "Triciclo" partiu um raio da bicicleta. Nada que fizesse muita falta, mas esperávamos que fosse apenas este. Depois, fomos enganados por umas marcações estranhas, que era umas setas amarelas, mas com uma linha azul. Pensamos tratar-se de alguma alteração do percurso e descuramos o trilho do GPS, que mandava por outra direção. Fizemos mal em não seguir o GPS, pois acabámos por fazer um desvio, que só não foi maior porque íamos subindo cada vez mais para a serra. Decidimos voltar a descer e seguir o trilho GPS.

Apanhamos então a estrada PO-552, que tem uma excelente ciclovia ao longo de praticamente todo o seu curso. Pudemos assim pedalar em segurança, seguindo a direção do caminho que, ora seguia pelo mesmo trilho que nós, ora passava paralelo à ciclovia, em caminhos de pé posto, onde só se passa realmente a pé.

Quando o terreno não permitia a ciclovia junto à estrada, esta afastava-se mais para o litoral e seguia por caminhos em terra, sempre com sinalização. Muito bom!

Aqui, o Caminho faz jus ao seu nome: era realmente o caminho da Costa, a da morte mais precisamente. Embora esta zona pertença à Rias Baixas (que inclui a ria de Vigo), pode considerar-se uma zona onde o mar é tão bravo como a zona situada mais a norte da Costa da Morte. Aqui, apesar do azul turquesa lindíssimo do mar, a costa está repleta de rochedos e baixios. Praticamente não existe praia e o vento (a conhecida nortada) é terrível! Foram 50 longos e penosos quilómetros a pedalar contra o vento. É uma das coisas que mais odeio: para além do desgaste extra, o som sibilante produzido pelo vento nos ouvidos é extremamente desagradável, até do ponto de vista psicológico.

Para aguentarmos a dureza do percurso, valeu a passagem por um local muito pitoresco: o Mosteiro de Stª Maria de Oia.

Construído praticamente em cima do mar, desafia a bravura do Atlântico e o ímpeto das suas ondas. Não deixa de ser engraçado passar pelo caminho/estrada abaixo do convento, pois arriscamo-nos a levar com uma onda em cima, a qualquer momento.

O cabo Silleiro desafiava-nos com os seus ventos, mas já conseguiamos observar o farol que servia de marco para o nosso caminho.

Sempre contra a nortada, alcançamo-lo com muito custo.

Pudemos também observar as baterias de canhões estrategicamente dissimuladas na encosta do cabo.

Dobrado o cabo Silleiro, descobrimos as Ilhas Cies.

Vista para a entrada da ria de Vigo.

Continuando pela ciclovia em direção a Baiona.

Vista da Fortaleza de Baiona.

Pedalando pela ponte medieval de Ramallosa (Sec. XIII).

O piso não era nada convidativo a pedalar.

Acabaríamos por ficar nesta localidade de A Ramallosa, pois já era tarde para continuar e a pedalada de 50 km contra o vento tinha sido penosa.

Uma etapa de quase 95 km, com 6h44 min de pedalada efetiva.

Ficamos albergados no Paço de Pias, uma antiga casa senhorial do Sec. XVII, que agora funciona como retiro espiritual sob a tutela de uma ordem religiosa.

Funciona também como albergue e as condições são ótimas.

Tem a particularidade de possuir o maior espigueiro (hórreo) de dois pisos da Galiza.

Por-do-sol sobre a baia de Baiona / A Ramallosa.

Amanhã seria outro dia, e o objetivo poderia ser chegar a Santiago.