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A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

Caminho Português de Santiago – 2ª etapa – 16/06/06

27.09.10, daraopedal
O dia começou bem cedinho com o despertar um pouco antes das 7 da manhã, a noite tinha sido mal dormida devido ao calor do quarto e ao barulho no corredor de outros peregrinos. Engoliu-se o pequeno-almoço e já estava pronto para partir.

O tempo estava óptimo e não havia nenhum sinal de chuva. Os vestígios do dilúvio da noite anterior limitavam-se ao orvalho que estava na vegetação e que, em contacto com a pele, até refrescava. Dirigi-me para o centro histórico para cruzar o Lima na ponte que dá o nome à cidade.

As águas calmas do rio quase pareciam um espelho onde surgia o voo agitado das andorinhas madrugadoras, o ambiente bucólico ideal para iniciar mais uma dura jornada…

Pouco depois de passar a ponte surge um trilho muito estreito em lajes junto a uma pequena linha de água que serpenteia entre os campos e onde a passagem se torna um pouco difícil, o que me obrigou a desmontar a bicla e levá-la à mão, tentando não escorregar nas pedras húmidas.

O trilho continua seguindo a auto-estrada A3, passando por baixo de um viaduto e cruza-se uma pequena linha de água numa ponte improvisada com umas placas de metal(muito escorregadias por sinal). Essa zona junto à auto-estrada não deixa de ser uma zona agradável com uma vegetação variada, até que se chega à zona da Labruja e a sua famosa subida.

Essa sim é uma zona complicada!

Talvez a mais complicada de todo o percurso pois foi necessário empurrar as biclas à mão. Numa subida antes de chegar à cruz dos franceses, até foi preciso carregá-las às costas!

Toca a carregar a burra! :-D

Junto à cruz dos franceses, as fotos da praxe! É impressionante a quantidade de pedras que lá foram colocadas pelos peregrinos…

Aí, fui ultrapassado por um outro peregrino a pé, que tinha cruzado uns quilómetros antes e que nos alcançou com uma facilidade desconcertante. Seguiu o seu caminho com extrema facilidade enquanto eu penava com a mochila e a bicla às costas!

Peregrino de bicla também sofre… :-) No fim da subida, a chegada à casa do guarda-florestal surge como um prémio.

É possível reabastecer os cantis de água fresca e pensar que agora vai ser quase sempre a descer até Valença!
Confesso que, pelos relatos dos meus colegas que já tinham feito o percurso, pensava que a subida seria muito mais difícil, certamente o facto de termos feito essa parte do percurso de manhã, pela fresca, ajudou imenso.
Pouco depois passei por Rubiães onde foi recentemente inaugurado mais um albergue com óptimo aspecto!

E foram mais duas horas de caminho até chegar a Valença. Ainda se passou por S. Bento da Porta Aberta, onde se fez uma pausa para reabastecer num café próximo da igreja e depois seguimos a descer por um trilhos espectacular que começa junto à mesma igreja. Esse trilho é perigoso q.b. quando se vai com uma mochila de oito quilos às costas demasiado alta e que nos bate, de vez em quando, contra o capacete! ;-) Era quase meio-dia quando cruzei a Ponte internacional de Valença do Minho!

Tempo de registar fotograficamente a saída de Portugal e entrada em Espanha!

A partir daqui as setas amarelas deram lugar às conchas/vieiras colocadas nas paredes dos edifícios ou em marcos de pedra onde surgia também a indicação da distância até Santiago.

Em Tui, o estômago dava horas e apenas tirámos algumas fotos junto à catedral para testemunhar a passagem, antes de nos enfiarmos no restaurante mais próximo (uma pizzaria).

De novo a caminho, passei pelo túnel das Clarissa em Tui onde registei, em foto, a passagem de todos menos a minha :-(
As ruelas de Tui são algo que merece o desvio, parece que o tempo parou e que estamos na época medieval!
Passados 5 km de Tui, cheguei a uma das zonas mais bonitas do percurso: a da zona da ponte das Febres.

Um trilho largo, com bom piso e rodeado de uma vegetação verdejante e agradável com um riacho a acompanhar-nos…

O melhor antecedeu o pior porque pouco depois cheguei ao Polígono industrial de Porriño, que não é mais do que uma enorme zona industrial com rectas que nunca mais acabam e sem nada de interessante. De registar, apenas a passagem pelo armazém de carros da Citroën (que só ele ocupa quase 2 km da recta, com centenas e centenas de carros alinhados) e a passagem superior sobre a linha de comboio que tem alguma piada quando feita de bicicleta. Depois foi seguir pela nacional até Porriño e de Porriño até Mós. Nesse percurso, cruzei-me com um grupo numeroso (uma quinzena) de betetistas portugueses (com alguns elementos femininos) – os Gondra Bike – que voltaríamos a encontrar pelo caminho.
Depois de Mós apanhei uma subida bem penosa de alcatrão onde o calor atrapalhou q.b.,

no cimo, e antes de descer até Redondela, encontrei um monumento comemorativo do Xacobeo.

Cheguei a Redondela ainda não eram 4h da tarde e o albergue ainda estava fechado.

De Redondela a Pontevedra ainda eram 15km. O pessoal estava moralizado, então decidiu-se prosseguir viagem. O céu carregado não deixava antever nada de bom, mas, mais uma vez, S. Pedro não nos deixou ficar mal.
A saída de Redondela foi penosa, visto que apanhei uma subida íngreme e as forças já se estavam a esgotar, além do calor não ajudar nada. No entanto, a paisagem era agradável com zonas de floresta. Depois da subida, uma descida rápida e larga com uma panorâmica digna de registo sobre a ria de Vigo.

Esse percurso acabou numa nacional (salvo o erro a EN 550) que custou percorrer, mas pela qual optámos, em detrimento de uma parte sinalizada do verdadeiro percurso, para chegar mais rapidamente porque o tempo estava a ameaçar chuva e o pessoal já estava a ficar cansado. Mesmo assim, custou, mas foi uma boa opção já que chegámos cedo a Pontevedra, o que permitiu tomar banho e instalarmo-nos sem confusão no albergue. Refira-se que o albergue tem óptimas condições: uma camarata enorme, boas casas de banho, uma cozinha, uma sala de jantar e até uma lavandaria.

Complicado foi encontrá-lo. Para quem não souber, fica a dica: é muito próximo da estação de comboios!

Acomodaram-se as montadas no exterior com as devidas precauções (leia-se cadeados)

mas a verdade é que elas não eram as únicas, já que, mais tarde chegaram outros grupos de betetistas, incluindo o pessoal do “Gondra-bike”. Ainda houve tempo para umas pequenas compras na cidade para lanchar, regressar ao albergue e repousar um pouco antes de ir jantar. Adivinham quem apareceu novamente? Exacto! A chuva! Depois de jantar, o cansaço dos 92.04 km em 6h27 pesavam e voltei para o albergue enquanto os outros ainda foram tomar café.

A noite foi muito má! Algumas pessoas que pernoitaram no albergue, "foram para os copos" e depois não deixaram ninguém dormir. Foi muito mau, uma manifesta falta de respeito pelos outros peregrinos e pelo espírito da peregrinação. Não deu para descansar muito, apenas repousar um pouco o corpo… No dia seguinte, esperava-me a última etapa!