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A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

A caminho de Santiago

O relato das minhas aventuras pelos Caminhos de Santiago

Dia 13 - Caminho Francês de Santiago

27.09.10, daraopedal

Voltámos a acordar cedo (6h30) e pelas 7h30 já estávamos a pedalar.

Ainda havia pouca luz e bastante nevoeiro quando nos aventurámos pelos trilhos adentro, e, nas zonas com muita vegetação, o ambiente eram ainda mais sombrio. Pelo menos não chovia, embora os trilhos estivessem com alguma água, mas sem lama.

Chegámos ao marco com o quilómetro 20. Já faltava pouco, mas os trilhos estavam novamente cheios de peregrinos que se deslocavam com muito entusiasmo, tal como nós, em direcção ao objectivo final. O trilho voltou ao sobe e desce que mói as pernas, mas o entusiasmo era muito e isso não chegava para nos fazer abrandar. Passámos junto à auto-estrada e à pista do aeroporto de Santiago.

A expectativa era de ver as torres da catedral ao longe, mas isso só aconteceu mesmo quando chegámos ao Monte do Gozo, um local onde existe um enorme monumento com uma base de cimento, painéis e uma figura de bronze em homenagem à peregrinação de João Paulo II.

Dali viam-se realmente as torres da catedral, embora dentro de muito pouco tempo isso venha a deixar de ser verdade devido a uma mancha de eucaliptos que estão a começar a tapar a vista.

Carimbámos na capela ali ao lado e começámos a descer. Aí deparámo-nos com um problema: um grupo enorme de peregrinos/reformados seguia pelo caminho desde o Monte do Gozo até à catedral. Ultrapassá-los foi enervante e entediante, mas lá conseguimos.

Finalmente chegámos ao final de toda esta aventura, à Praça do Obradoiro. Estávamos diante da Catedral de Santiago de Compostela!

Eram quase 10 horas da manhã. Dirigimo-nos para a Oficina do Peregrino para buscar a Compostela, o certificado oficial que comprova a realização da peregrinação. Ainda estivemos quase uma hora na fila para o conseguir.

Fomos então à estação de comboios, serpenteado no meio do trânsito e das obras em frente à estação, para comprar o bilhete de regresso. Voltámos à catedral para entrar para assistir à missa e ficámos numa fila enorme. No entanto, não tivemos sorte e o último a entrar na igreja ficou a pouco mais de 20m à nossa frente. Fui perguntar ao segurança para confirmar. A catedral estava cheia e não entrava mais ninguém antes do fim da missa. Percebi também que estávamos na fila errada para entrar pela porta santa, a tal que só abre em anos de Xacobeu. Mudámo-nos então para outra fila enorme, onde estivemos quase uma hora até conseguir entrar.

O abraço ao Santo e a descida até à cripta foram muito rápidos, mas foram o culminar da epopeia. À saída, um pouco por acaso, reparámos que um peregrino entrara por um outra porta mostrando a credencial ao segurança. Fomos perguntar ao mesmo segurança e recebemos a confirmação, só não podíamos entrar com a mochila do camelback. Decidimos então visitar a catedral um de cada vez enquanto o outro esperava com a mochila. Fiquei um pouco mal impressionado com a confusão e barulho que se faz sentir na catedral, tirando muito do misticismo do local. Fui até ao portal da glória, na entrada ao fundo da catedral e verifiquei que o mesmo estava em obras e a coluna, o local onde é suposto tocar e bater com a cabeça estava agora protegida com umas grades metálicas.

Visitámos então a zona em redor da catedral, as pequenas ruelas de aspecto pitoresco e almoçámos num restaurante ali perto. O almoço foi tão demorado que depois tivemos de andar a correr à procura de uns "recuerdos" para levar.

Finalmente estávamos de regresso a casa. O dia tinha sido tranquilo pois apenas percorrêramos 23,58km. Instalámo-nos confortavelmente no comboio todo catita da Renfe, deixando as bicicletas bem arrumadas no local do compartimento reservado para esse efeito.

 

Até existe um sistema de cadeado para prender as bicicletas quando se encontram penduradas colocando 1€ como caução.

Muito bom mesmo! A CP que aprenda! Chegámos cedo a Vigo onde estivemos à espera cerca de 1h30 até apanhar o comboio/chocolateira até ao Porto.

É abismal a diferença entre o comboio português e o espanhol. Até percebo que a linha não seja muito rentável ao longo do ano, mas a verdade é que a lotação até ia bem composta, com bastante gente, talvez por ser verão, o que justificavam eventualmente um comboio um pouco melhor. Pelo menos colocaram uns ganchos para pendurar as bicicletas na carruagem de carga, o que não existia da última vez que fiz a viagem.

Eram vários os peregrinos que regressavam às terras lusas, satisfeitos e contando as suas aventuras. Na passagem do rio Minho, entre Tui e Valença do Minho, entraram agentes do SEF para controlar as identidades. Quando chegou à minha vez, lá tive de explicar que tinha esquecido o BI e só tinha o cartão de saúde. Por sorte, lá me deixou continuar e até estivemos um bocado na conversa. A aventura findou na estação de Campanhã, já passavam das 10h da noite e ainda tivemos direito a uma pedalada pelas ruas da cidade até chegar ao nosso poiso.